segunda-feira, 21 de abril de 2008

SEM PAR

É seu desprezo que entra sem pressa
na fresta dessa nossa porta,
- Quem se importa?
É sua frieza, neste mundo de giz,
é sua fala na boca da atriz,
disfarce em rosto de pedra,
Que não se afeta, não se contradiz.
É seu faz-de-conta que me aponta
e desfaz as contas dos muitos anos
que costurou nossos planos,
e me trouxe a certeza
de não te querer mais...
- Tanto faz?
A lua tem novas fases,
Na igreja tem mais milagres,
E seu lema não é minha religião,
Seu caminho não faz a direção,
Não preciso sentir nos meus sonhos
O abrigo tranqüilo da Dona Ilusão.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Monólogo de Malandro

Negra alma de voz em postas, negro jacarandá moldado por mãos de artesão em batuque e toque de dedos nas cordas de sua mão,

Lacrimeja poesia dentre a anomalia da dureza imposta em mesas dispostas e dores expostas.

É só swing, teretequê, a malandragem correndo em veia grossa,

Chapéu tapa-um-olho e rebola por seus dedos num balet tupiniquim...

Ninguém tem pena de mim, nem deste sorriso de dor que salta à boca entreaberta em espasmos... Querubim sem asas voa pelos copos, só em monólogo, aceita preencher os poros da sala que abafa,

E frios corações derretem,

Cada rosto pequenas emoções despertam gotas que escorrem,

Alça sua voz de mil trovões e se recolhe, como em puleiro, ao microfone quieto,

que aguarda seu lugar,

E desanda a cantar...

sábado, 5 de abril de 2008

Antiguidade



Ficava bem em meio aos pós, cá entre nós, modernos ou antigos, pós-partos, pós-infartos, pós-literários, pós-insustentáveis pelo ar, pó...

Quanto o tempo está marcado pelos pós, pós-musicais, pós-existenciais, entre o pó e o tempo, pós-invento, entre o pé de vento e o entretenimento do tempo... Deixado de lado a um pano de prato, um porta-retrato, pêlos de rato ou o fato, preso no farto pó do casaco...

Ficava bem em meio ao pós, cá entre os nós, de marinheiro, dentro do tabuleiro, bengala do cabideiro de séculos idos, revividos, sob os móveis antigos. Quem diria? Quem poderia no meio da velharia, ficar bem, cá entre nós, dos dedos negros do jacarandá.

O pó lhe caia bem...

Almas mofadas, guardadas em baixo das almofadas fadadas ao esquecimento, acordadas pelo atrevimento do restaura-a-dor...e dói a-cor-dar...

Ficava bem acordada, em meio ao pó... Ali parada, estática de dar dó...Ficava bem cá entre nós, entre a mobília que não era velha, mas antiga, porque tem gente que é velha, mas tem gente que é antiga, faltava-lhe um vestido, comprido, o jeans não lhe dava ares de atualidade, tinha sempre um ar de saudade, de que ficou pra trás a felicidade e uma gota de lágrima pendurada, ... que ficava bem mesmo em pó....